Os horizontes culturais de uma grande cidade são diferentes dos de uma cidade pequena. Isso chega a ser uma informação redundante. Contudo, é justamente a possibilidade de fugir da redundância que faz toda diferença. Por isso mesmo, o Rio de Janeiro continua sendo a capital cultural do Brasil. Quando fazem piadas com estrangeiros que ainda acreditam que o Rio seja a capital do país, um pouco da comicidade talvez esteja em quem ri. Para mim Brasília foi um projeto utópico de um “país do futuro” prenhe de retórica, mas sem conteúdo: a cidade sem esquinas tornou a exclusão sua regra.
Por outro lado, no Rio a diferença social faz parte da paisagem de um modo gritante e explícito. A divisão Norte-Sul reproduz em maior escala as diferenças entre morro e asfalto. Esse tipo de dicotomia tem também seu aspecto mítico na hora de se pensar o país: a oposição litoral-interior, centro-marginal etc., por vezes celebra a civilização contra a barbárie, por outras romantiza os bons selvagens que teriam mantido intacta a “essência do país”. Zé Brasil e Jeca Tatu devem ser a mesma pessoa. E quando se encontram... estranho estranhamento.
Estranhamento que existe nas letras de Fernando Brant que tantas vezes falam de “mar”, o que na boca de um mineiro tem outro sabor. Uma nostalgia do que não há, marca de uma percepção mítica do infinito. Já Chico César quando veio da Paraíba para São Paulo ficou também encucado. Mas o caso dele era a cidade, mas também uma menina; uma amiga daquelas que são mais que amigas e de quem você quer amor: ele batizou essa relacao de "amorzade".
Hoje fui aos shows de Fernando Brant, Tavinho Moura e Mariana Brant; e na apresentação do Cantáteis de Chico César. Estes dois eventos fazem parte do projeto Caminhos poéticos da canção, que está acontecendo no CCBB no Rio de Janeiro. É isso que quero relatar... por isso essa volta toda: postagem grande suícidio digital...
Mas como já falei demais e pretendo fazer considerações sobre todo esse ciclo de shows e debates (se conseguir ingresso pra todos), aqui vai a programação para quem se interessar.
Programação Completa do Projeto Caminhos Poéticos da Canção:
10 de março
12h30 - A Canção de Minas Gerais e a Obra de Fernando Brant, com Fernando Brant e participação especial de Tavinho Moura e Mariana Brant.
18h30 - Cantáteis (Cantos Elegíacos de Amizade), com Chico César.
17 de março
12h30 - A Canção Popular Brasileira Contemporânea: Novos Horizontes, com Makely Ka e participação de Ricardo Cravo Albin, Danilo Moraes e Rodrigo Bragança.
18h30 - A Canção Popular Brasileira Contemporânea: Novos Horizontes, com Danilo Moraes e Rodrigo Bragança e participação de Ricardo Cravo Albim e Makely Ka.
24 de março
12h30 - O Artesanato da Canção, com Luiz Tatit.
18h30 - A Canção Popular Brasileira Contemporânea e a Obra de Luiz Melodia, com Luiz Melodia e participação de Mahal Reis.
31 de março
12h30 - Nas Palavras das Canções, com José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski.
18h30 - A Poesia Moderna na Canção, com Arnaldo Antunes e Alice Ruiz.
P.S.: O projeto tamb'em acontece em Bras'ilia.
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