sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um inusitado movimento



Numa manhã como outra qualquer, num país corrupto de primeiro mundo, todos os políticos acordaram sob a mira de revólveres. Uma força-tarefa, idealizada em certo website, abrangeu cada município da evoluída nação. Os jornais noticiavam “Líderes ameaçados”, “Pânico na política”, “País em crise”. Nas ruas esse era o assunto da vez.
- Ficou sabendo?
- Do quê?
- Os políticos foram seqüestrados.
- Ah, não me dê falsas esperanças.
- Estou falando sério, veja!
- Deus do céu, é verdade mesmo? Quanta crueldade!
O mais famoso telejornal noticiava o vídeo entregue pelos seqüestradores. Na gravação, um senador lia uma carta, enquanto fuzis miravam seu crânio.
- Hoje fomos presos e sentenciados – leu o homem de terno, suando. – Sabemos que somos mentirosos por natureza e merecemos o mais alto castigo – ele parou um momento antes de continuar. – Pedimos que a polícia não tente nos resgatar. E não vamos pedir perdão por nossos erros, para que não haja chance de redenção.
Muitos que assistiram à transmissão ficaram com pena do senador que lia sua própria sentença de morte. Outros ficaram indignados pela coragem dos líderes em pedir que a polícia não se envolvesse. E muitos ainda concordaram com o mais alto castigo aos políticos, já que eles mesmos não queriam pedir perdão pelos erros. Já o restante dos espectadores resolveu mudar de canal e assistir a novela.
O fato foi que a força tarefa não durou muito tempo. Os integrantes começaram a se questionar o que aconteceria depois. Se realmente valeria a pena seguir com o plano. Protestos surgiram na rede mundial, em prol da soltura dos vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e, principalmente, do presidente.
E foi na primeira brecha encontrada pelo exército (já que a polícia havia sido descartada pelos reféns) que os seqüestradores foram encurralados, presos e sentenciados.
Metade dos criminosos foi parar na forca. A outra metade lotou as raras prisões de segurança máxima do país de primeiro mundo.
O líder máximo da nação lamentou o ocorrido e abriu uma investigação para apurar os fatos. Deste modo, toda terça-feira os políticos saem de suas casas e se dirigem às câmaras e senados para participar da mais nova CPI em andamento. E no restante da semana descansam. Mas engana-se você se pensa que fazem isto por menosprezar o cargo que exercem. Os políticos em seu descanso refletem sobre a vida. Sobre o que fazem, se é certo ou errado. Sobre o porquê da população nunca estar contente e sempre querer mais. E é nesse momento de juízo que afloram os pensamentos de esquerda, direita e mercenarismo. É daí que novos partidos brotam, novas idéias afloram e novos desistentes se afastam do cenário político.
E dizem por aí que estes afastados criaram um movimento. Parece algo novo e inusitado. Comunidades on-line só falam nisso, bolando estratégias e recrutando adeptos. Segundo fontes, antigos simpatizantes do senado estão formando um verdadeiro exército para seqüestrar e executar todos os líderes políticos.
Tal informação chegou aos ouvidos das autoridades, mas, sinceramente, para que se preocupar? Todos sabem que seria uma força-tarefa impossível de se cumprir e, caso acontecesse, a polícia estaria de prontidão para atuar diante do fato. Ora, o país em questão é civilizado, sem dívidas nem corrupção. Formado por pessoas de bom caráter e índole ímpar. Deviam é se orgulhar dos líderes que o próprio povo retirou do palanque. Afinal de contas, não estamos falando de um país de criminosos, mas sim de uma evoluída nação de primeiro mundo.

Alcy Filho

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