sábado, 11 de abril de 2009

Decálogo para pensar a cultura atual Alejandro Rozitchner

Alejandro Rozitchner e seus três ateuzinhos


Há alguns anos fiz um post no antigo blog filosofia pop no Overmundo divulgando o trabalho do filósofo argentino Alejandro Rozitchner. Me interesso pelo trabalho deste autor por sua radicalidade em tentar trilhar caminhos inusitados e propor diálogo constante. Uma pena que não consegui ter acesso a livros como Conciencia rockera. La experiencia del mundo ou 
Escuchá qué tema. La filosofía del rock nacional, em que análisa a partir de uma perspectiva filosófica diversas letras do rock argentino. É uma inspiração e algo que me intessa... Por enquanto, por essas bandas, temos traduzid0 apenas um livro de Rozitchner escrito juntamente com Ximena Ianantuoni sobre como criar filhos ateus (Filhos sem deus: ensinando as crianças um estilo ateu de viver, Martins Fontes, 2008), causando (alguma) polêmica com declarações como está, feita numa entrevista para a revista Época:

ÉPOCA – Vocês já pensaram o que vão dizer a seus filhos quando eles perguntarem pela primeira vez sobre Deus?
Rozitchner - Vou explicar que Deus é só uma idéia criada pelos homens como uma necessidade de explicar o mundo. E que, por isso, não deixa de ser um personagem, tal como o Buzz Lightyear ou o Woody do Toy Story(...)
Leia a reportagem inteira de uma página gospel e o(s) (primeiro!) comentário(s) clicando aqui.


Traduzi um post bem provocativo do blog de Rozitchner chamado Decálogo para pensar a cultura atual. É este que podem ler abaixo:


Decálogo para pensar a cultura atual Alejandro Rozitchner

Não me lembro para qual evento escrevi este decálogo justiceiro e provocativo, porém o encontrei a pouco e me pareceu valioso. Aqui vai:

Interpretar os índices de leitura como uma decepção e traçar outra vez um quadro de catástrofe é repetir um costume cultural argentino e estéril: saborear o abismo. Esta atitude é mais a causa de nossa pobreza cultural que um fator de avanço. Como compreender a cultura para aumentar sua vitalidade? Sugiro estas idéias para discussão:

1. A cultura é o que há de mais valioso em uma sociedade: o que coroa sua existência, o que lhe permite formular suas estratégias de crescimento, o refinamento de sua visão do mundo, a elaboração da felicidade de seus membros.

2. A pobreza material é criada pela pobreza cultural: nossa produção de miséria é nosso fracasso na criação de uma cultura vital. Em vez de nos atarmos a uma visão tradicional da cultura se faz necessário reformula-la para reverter à situação.

3. Cultura é criatividade, não respeito. Atrevimento e ousadia, não repetição e rigor (mortis). Cultura não é venerar sempre aos mesmos. Mais que venerar é respirar e querer, viver a própria vida com autenticidade e vigor.

4. Internet é cultura: se lê menos, se escreve mais, de outra forma, os índices para compreender a cultura de 50 anos atrás não podem aplicar-se hoje. Existe um mundo novo.

5. O pensamento crítico inibe a produção de cultura: temos idolatrado a objeção, a distância objetiva, a suspeita e a interpretação cínica. Isto gera a queda; não nós salva, nos oprime.

6. Cultura é pensamento: ver as coisas de novo, não aferrar-se as mesmas idéias de sempre para salvar-se do mundo, mas sim, buscar idéias novas para querê-lo e produzi-lo.

7. Cultura é mercado. Produtos, consumo, inversão, ambição, ganância, desejo de mais feito arte. Lutar com a sociedade de consumo é ignorância, visão estreita, debilidade mental.

8. Cultura é arte de viver. O que os espanhóis demonstram o prazer de estar ocioso e ser, de quere-se e enfrentar os conflitos. Não distanciar-se das coisas e sentir-se superior, ser, pelo contrario, capaz de querê-las mais.

9. Cultura é crescimento político. Reformas - se reformas são necessárias -, oposição inteligente e não somente partido hegemônico. Aceitação dos limites do mundo político e trabalho para defender e melhorar as instituições humanas.

10. Atualizar os valores é fortalecer a cultura. Dar-se conta de que os valores não morrem, mas sim, que se transformam, aprender a ver que existem valores novos que são superiores a muitos dos valores perdidos. Devemos nos colocar a altura das circunstâncias.

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