sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O mito da representatividade

Segundo a Wikipedia, "Democracia ("demo+kratos") é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos".

Por essa definição, a eleição é o momento que escolhemos os nossos "representantes". Isso é um problema porque as pessoas geralmente não se sentem "representadas" pelos candidatos e isso gera muita insatisfação. Não estou dizendo que esse é o maior motivo da falta de interesse das pessoas pela política, mas esse abismo que existe entre a definição teórica e o que vivenciamos na prática certamente atrapalha.

Não posso dizer que os candidatos que se apresentaram nessas eleições me representam. Precisamos de uma outra visão, uma outra abordagem, uma outra metáfora se quisermos falar da relação entre eleitores e eleitos.

A disparidade entre a definição do que é democracia e o que encontramos na prática acaba se transformando em argumentos para quem não concorda com o sistema democrático vigente, seja por quem defende um sistema de democracia direta, seja por quem defende ditaduras ou regimes totalitários.

Se começarmos a pensar que as eleições são um processo para a escolha dos melhores candidatos para ocupar um determinado cargo, o ponto de vista é diferente. Não estou mais pensando em quem me "representa", mas sim em quem melhor se qualifica para ocupar o cargo, na opinião do eleitor.

Adotando essa postura, passa a ser menos importante conhecer a vida pessoal do candidato (pois não temos mais que saber se ele pensa como a gente, ele não me "representa" mais) e mais importante a formação dele, não somente o currículo formal, mas as experiências pelas quais ele passou, as linhas de pensamento que ele geralmente segue ao tomar uma decisão entre outras coisas.

Dessa forma, podemos nos aproximar mais de uma democracia mais saudável, sem ficarmos nos preocupando se estamos sendo "representados", mas sim pensando em qual candidato melhor ocuparia o cargo que disputa.

2 comentários:

  1. muito bem escrito dr. Texto limpo e claro. Essa crítica a noção de "representação" é algo que parece que gera mesmo uma assunto interessante. Nunca tinha pensado nisso. Um cara de esquerda do século XX diria que você quer que vejamos a democracia tomando o estado por empresa e a cidadania como um modo de sermos clientes do estado. Talvez a questão não seja tanto de fazer a máquina funcionar mas de perguntar sobre sua função, direção, projeto etc. Aí certas pessoas podem represnetar posições e causas específicas. Existem deputados que se elegem com uma bandeira única, como legalizar à maconha ou transformar uma extensão em Universidade federal autônoma... acho que dá pra contornar esses "poréns", mas aí a bola volta pra você...

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  2. Mas mesmo se pensarmos, como você diz, na função, direção e projetos da máquina estatal, deixamos de pensar a noção de representação. Se formos pensar na prática, o estado é uma empresa e nós somos clientes do estados de fato, é uma máquina estatal.

    Existem deputados que se elegem com causa única e existem também tiriricas, bebetos e romários... e o cara que se elege com uma bandeira única terá que apitar sobre outras coisas lá também. Acho que pensar no cargo que ele vai ocupar leva as pessoas a conhecerem melhor o que faz um deputado, um senador, um presidente...

    O que fica difícil nessa visão que propus, acho, é pensar em alterações no sistema, já que estamos pensando na hierarquia dos cargos como pontos fixos onde encaixaremos os eleitos e pensar em mudar esses pontos fica complicado.

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