terça-feira, 2 de novembro de 2010

Duas falas de Boris Grushenko

 Woody Allen sempre em seus filmes brinca com a pro-fundidade de certas interrogações filosóficas. Em Love and Death esse traço fica bem evidente. A tradução do título no Brasil foi A última noite de Boris Grushenko, o que mais uma vez prova que, como afirmou Júlio Cabrera, os brutos também traduzem. Em Portugal o título é "Nem guerra, nem paz", satirizando a obra de Tolstoi Guerra e Paz.
Retiro e posto aqui dois monólogos do filme, dois momentos em que Allen conversa com o espectador, apontando suas conclusões e perplexidades filosóficas. Fica a dica do filme.


Boris Grushenko em dilema moral sobre a necessidade ou não de matar Napoleão

Olhem para ele. Se eu não matá-lo, haverá guerra por toda a Europa. Mas assassinar. O que Sócrates diria? Todos esses gregos eram homossexuais. Devem ter tido altas festas. Aposto que pegavam uma casa em Crete no verão. ''A'' - Sócrates é um homem. ''B'' - todos os homens são mortais. ''C'' - todos os homens são Sócrates. Significa que todos os homens são homossexuais. Eu não sou homossexual. Um dia, uns cossacos assobiaram para mim. Tenho um tipo de corpo que atiça ambas as crenças. Mas alguns homens são heterossexuais... e alguns homens são bissexuais... e alguns homens nem sequer pensam em sexo. Eles viram advogados. Meu problema é que vejo os dois lados da questão. Sou lógico demais. O mundo não é lógico. Se fosse lógico, como o velho Nehamkin era mais jovem que o jovem Nehamkin? Eu sabia que era estranho quando era criança... mas toda vez que eu mencionava, eles me batiam. Estou amargurado com a culpa... e consumido pelo remorso... e abatido com o sofrimento da raça humana. Não só isso, mas estou com herpes no lábio... e está me matando. Ah, o que fazer?!

 
Monológo final de Grushenko
Estou morto e elas ficam falando de trigo. A questão é: Aprendi alguma coisa da vida? Só aprendi que os seres humanos dividem-se em mente e corpo. A mente abarca todas as aspirações nobres... como poesia e filosofia... mas o corpo é que se diverte. Acho que o mais importante é não ser amargo. Se por acaso houver um Deus, acho que Ele não é ruim. O pior que pode dizer sobre Ele é que é não é muito inteligente. Afinal, há coisas piores do que a morte. Se você já passou uma noite com um vendedor de seguros... sabe exatamente o que eu quero dizer. Acho que o segredo aqui é não pensar na morte como um fim... mas pensar na morte como uma maneira eficaz... de diminuir as suas despesas. Com relação ao amor... Você sabe. O que dizer? Não é a quantidade de relações sexuais que conta. É a qualidade. Por outro lado, se a quantidade cai para uma vez cada oito meses... eu definitivamente pensaria melhor. Bem, para mim, isso é tudo, pessoal. Adeus.

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