quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Escrituras, Sono, Interferências

A insônia ataca como uma excitação esquisita, angústia diluída ou preocupação vazia. Essa súbita e involuntária negação do sono pode trazer à tona uma leve euforia. Há pessoas que insistem no sono, ligam a televisão, abaixam o volume, fecham os olhos e contam ovinos. Algumas sucedem, outras não, e há uma pequena parte destas almas que consegue relaxar o corpo embora sua percepção permaneça alerta. É muito comum o tato e audição aguçarem-se nesta vigília mental. Em especial, durante o estado de movimento rápido do olhos, alguns privilegiados (ou atormentados) escutam o ruído branco ainda percebendo o som do mundo em meio às desordenadas frequências.
Nesse momento a pessoa deve fazer uma escolha: Render-se às águas do Letes expiando-se à maneira de Dante ou enfrentar o rumor do esquecimento e permanecer vigília buscando abrigo em palavras.
A noite pode ser desértica, atravessá-la sem sono é uma empresa heroica ainda mais quando o fazemos sob algum teto. Casa, apartamento, hotel. Se estamos confinados e sozinhos recorremos a pequenos prazeres e mantemos guarda. Café, cigarros, cocaína. Enquanto alguns sofrem a insônia outros a procuram. 
A violência de uma nuit blanche é o próprio ato da escritura.
Molhar a pena e ferir o papel é navegar o Estige. Sentir o ardor das palavras é banhar-se no Flegetonte. Tentar esquecer suas circunstâncias pode ser revivê-las como O (ou um) outro. Durante a madrugada o autor da escritura vive na mesma circunstância do herói.

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