quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Irreligião - Capítulo 3

Esse capítulo é bem pequeno, então vou postar uma tirinha grande do Um Sábado Qualquer.


    Parte I: Quatro Argumentos Clássicos

  1. O argumento da Causa Primeira (e intermediários desnecessários)
  2. O argumento do Design (e alguns cálculos criacionistas)
  3. Uma pseudociência pessoalmente elaborada
  4. O argumento do Princípio Antrópico (e um Apocalipse Probabilístico)
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Uma pseudociência pessoalmente elaborada

Em antecipação aos argumentos do princípio antrópico e coincidência que serão apresentados em capítulos posteriores, eu quero dar uma receita mágica matemática para qualquer um que possa querer desenvolver sua própria pseudociência. O astrônomo holandês Cornelis de Jager, que inventou o algoritmo seguinte para constantes físicas pessoais, usou-o para elaborar uma encantadora teoria sobre as propriedades metafísicas das bicicletas holandesas.

Aqui está a receita: pense em qualquer número associado com você (sua altura ou peso, o número de filhos que você tem, sua data de nascimento ou aniversário, qualquer coisa) e rotule esses números com X, Y, Z e W. Agora, considere vários produtos e potências desses números. Especificamente, considere a expressão Xa Yb Zc Wd, onde os expoentes a, b, c e d variam entre os valores 0, 1, 2, 3, 4, 5, 1/2, 1/3, 1/4 ou os valores negativos desses números. (Para qualquer número N, N1/2, N1/3 e N1/4 são iguais à raiz quadrada, raiz cúbica e raiz quarta de N, respectivamente, e N com um expoente negativo, digamos N-2 é igual a 1 sobre N elevado ao expoente positivo correspondente, 1/N2.) Uma vez que cada um dos quatro expoentes pode ser qualquer um desses 17 números, o número de possíveis escolhas de a, b, c e d é, pelo princípio da multiplicação, 83521 (17 x 17 x 17 x 17). Existe então essa quantidade de possíveis valores para a expressão Xa Yb Zc Wd.

Entre todos esses valores, provavelmente existirão alguns que serão iguais, ao menos em algumas casas decimais, a alguma constante universal. Como a velocidade da luz, a constante gravitacional, a constante de Planck, a constante de estrutura fina, o ponto de ebulição do carbono e assim por diante. Se não existirem, as unidades na qual essas constantes ou os seus números pessoais são expressos podem ser alteradas para chegar à equidade necessária. Um programa de computador pode facilmente ser escrito para checar qual dessas constantes universais é igual a um dos 83521 números gerados pelos seus quatro números originais.

Assim você pode aprender que para os seus números particulares X, Y, Z e W, o número X2 Y1/2 Z-3 W-1 é igual à distância do sol até a terra em milhas (ou quilômetros ou metros ou polegadas). Ou você pode descobrir qualquer uma de muitas correspondências entre seus números pessoais e essas constantes universais. A receita pode claramente ser revisada e melhor desenvolvida, mas usando alguma versão dela, você revelará alguma maravilhosa correspondência entre seus pequenos números e as constantes cósmicas do mundo. De Jager, um entusiasta das bicicletas, descobriu que o diâmetro do pedal da sua bicicleta multiplicada pela raiz quadrada do produto do diâmetro da sua campainha e da lanterna é igual a 1836, a razão da massa de um próton para a de um elétron. A propósito, a razão da altura do Sears Tower, em Chigaco, para a altura do Woolworth Building, em Nova York é igual aos mesmos dígitos significativos (1,836 ao invés de 1836) como o visto acima. Talvez as correspondências geradas dessa maneira denotem um Deus pessoal. Sim, claro.

Embora o descrito acima não seja particularmente engraçado, também não é reverencial e sugere algumas questões sobre religião e humor. Por que a noção de um fundamentalista comediante engraçado é tão estranha? Por que (pelo menos para mim) a ideia de Deus como um comediante parece mais atraente do que a visão tradicional de Deus? Por que a solenidade tendem a infectar quase todas as discussões sobre religião? Certamente, a incapacidade ou relutância do quadro preferido de alguém é parte da resposta. Também é uma intolerância para com o carater provisório e fantástico. A incongruência necessária para apreciar humor é apenas reconhecível com uma mente aberta e nova perspectiva. (Um famoso “argumento” para uma proposição abstrata simbolizada por p vem à mente. É atribuída ao filósofo Sidney Morgensbesser e ilustra, ou talvez simula, essa inconstância fluida. “Então, se não p, o que? q talvez?”)

De qualquer forma, um ministro, um rabino, um iman e um nervoso ateísta, cada um acreditando em sua verdade literal e estrita (ou literal falsidade) de suas escrituras sagradas, estavam estreando no Improv e...

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