segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Aversão a críticas e o comportamento de rebanho

Quando estava cursando Ciências da Computação na UFG, fiz a disciplina de Filosofia da Arte com o professor Gonçalo Armijo Palácios como parte do núcleo livre. O professor Gonçalo estava no então FCHF, que foi desmembrado.

Para quem não o conhece, segue um vídeo de palestra dele no youtube:


Gonçalo é equatoriano e já estudou e lecionou em diversos países, incluindo os Estados Unidos. Em uma de suas aulas, ele apontou para uma característica que é muito marcante na cultura brasileira: a intolerância a críticas.

Isso se dá da seguinte forma: os brasileiros, ao contrário das outras culturas que o professor conheceu, não consegue separar uma crítica ao seu trabalho de uma crítica à sua pessoa. Isso transforma qualquer crítica em um ataque pessoal, como se quem fosse criticado por ter feito, por exemplo, um mau trabalho, estivesse sendo pessoalmente atacado. Ou seja, só se critica aquele que você tem alguma desavença, aquele que você não gosta. Com isso, quando alguém critica o outro, diz-se que alguém "falou mal" do outro, como algo negativo.

Podemos observar também esse comportamento nas pessoas que são avessas a qualquer debate, a qualquer confronto de ideias. Preferem sempre "deixar quieto", deixar isso pra lá, porque discordar do outro significa que você não gosta do outro ou tem algo contra o outro.

A relação contrária também se observa: se você elogia algo do outro, significa que você tem alguma afeição pelo outro. Por exemplo, se você faz parte de um partido político e reconhece alguma qualidade do adversário, já começam a apontar que você teria "simpatia" pelo outro partido. Se você faz parte de um grupo, o tem que concordar com todas as posturas do seu grupo e apenas com as posturas do seu grupo.

Se você está em Goiás, você tem que ouvir música sertaneja. Não gostar de música sertaneja ou criticar a música sertaneja é falar mal das pessoas que ouvem música sertaneja. É não gostar de Goiás.

Esse comportamento de rebanho é extremamente prejudicial, principalmente para um país que almeja estar entre os desenvolvidos. Para alcançar avanços nos conhecimentos, a crítica é algo necessário. Não se avança em qualquer área do conhecimento sem que haja crítica. E se criticar o outro significa um ataque pessoal, não é possível nenhum avanço significativo.

Precisamos aprender a criticar e sermos criticados, sem tomar isso como uma ofensa. Esse aprendizado não é fácil, porque estamos imersos em uma cultura que valoriza essa característica e poucos são aqueles que se atentam para isso.

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