terça-feira, 9 de novembro de 2010

Medindo o chifre de Rinocerontes


Acabei de ler O rinoceronte, peça de Eugène Ionesco. Gostei de ter lido, até porque conheço muito pouco de dramaturgia e menos ainda do chamado "teatro do absurdo". Ecos dA Peste de Camus em negativo e acho que a coisa dá pano pra manga: pode gerar texto de texto. Mas confesso que o primeiro e segundo atos da peça me deixaram mais instigado do que sua sequência. Quando o rinoceronte não aparece sua força imaginaria é maior. Depois, ao colocar dentro do palco seu rinoceronte, Ionesco não deixa de humanizá-lo, de colocá-lo sobre uma régua humanista... o que me fez pensar se Quindim não teria fugido do Sítio do pica-pau amarelo e inspirado Ionesco.A dúvida persiste porque não sabemos se o primeiro rinoceronte da peça de Ionesco toca atabaque, sendo assim africano, como o que era amigo de Pedrinho no Sítio do Pica-pau amarelo. Em termos ontológicos, penso que o Quindim de Monteiro Lobato ataca mais o realismo que os Rinos de Ionesco!

Mas, como sempre gosto de buscar um pouco mais...acaba que o Rinoceronte ecoa em lugares inusitados como um oxímoro: "absurdo lugar-comum".


Eis que, além do filme de 1974 que tentou adaptar a peça mais literalmente, outro longa-metragem (de 2008) buscou retomar a peça numa visão mais inovadora. Ora, trata-se do filme As Strippers Zumbi estrelado por Jenna Jameson.  Jameson é atriz pornô conhecida (e reconhecida). (Como alguns dizem que Sasha Grey na verdade nasceu no Ceará e foi pequenina para a América, provavelmente origem também de outras celebridades (veja este site), Jameson deve ser goiana, de uma família de gaúchos que mudou para aquelas bandas quando ela era também muito nova. O "r" retroflexo não me deixa mentir: ela deve dizer poRta e poRteira como qualquer goiano legitimo!).
Enfim a trama deste cult trash envolve logicamente a fuga de alguem transformado em zumbi em alguma experiência secreta mal sucedida (no caso uma tentativa de fazer com que os soldados americanos mortos continuassem a lutar como mortos-vivos poderosos). Este cara infectado pelo vírus zumbi se aloja justamente em uma boate de strip-tease denominada Rhino (olha o Ionesco acenando! Que maravilha!). Neste futuro provavel e possível, a nudez teria sido proibida num contexto em que a direita conservadora americana haveria triunfado e ampliado sua cruzada moralista. Enfim, a boate de show de mulher pelada surge como uma forma de Resistência (que faria qualquer fã de filosofia francesa pensar em algum "devir zumbi", que ficaria devendo em sentido, mas apontaria para uma para a luta para manutenção de uma diferença etc. etc.). Jenna representa a principal atração da casa, que, por seu sucesso é alvo de inveja das outras moças.
Quando uma menina nova chega do interior para fazer shows com o objetivo de pagar alguma operação para sua avó (não me lembro se era bem essa desculpa, mas era um cliché destes comuns deslocados, na moda Ionesco ou Engenheiros do Hawaii), fica tímida ante a plateia e não consegue se despir. O dono da casa vai pedir que Jenna a ajude, mas esta está ocupada lendo as Obras Completas de Nietzsche e se nega a ajudá-la: aquele fracasso deveria ser superado pela própria caipira (e isso a tornaria mais forte!). Enfim, Jenan vai fazer seu show e é atacada pelo zumbi, o dono da casa pensa que ela está morta, mas a moça ressurge rebolante e como zumbi stripper faz muito mais sucesso do que antes! Por conta desta mais-valia o dono da boate ilegal não vê problemas em ter que alimentar a cada show sua dançarina zumbi com algum dos homens da plateia. Enfim, não vou contar mais desta saga porque acredito que quem leu até aqui vai acabar vendo o filme. Mas dá p'ra justificar essa curiosidade: não se trata de ver mais um filme trash, com toscas cenas de terror e exibição de corpos gratuita (claro que não), a base metafísica-filosófica que inspira a narrativa põe em questão quem seriam os zumbis (a platéia de homens infantilizados?, as mulheres que na busca por aprovação se escravizam a essa indústria do entretenimento má e capitalista?). Talvez essas interrogações importantes te façam ter uma curiosidade natural pela carreira de Jenna Jamesson, e, antes que você dê uma googada e caia em sites com conteúdo ofensivo coloco aqui o link para o perfil dessa atriz (goiana), que foi conquistar à América! Os goianos dominarão o mundo antes dos cearenses! Se não for pelo bem das mensagens filosóficas cifradas de Resistência, que seja pela música sertaneja!

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