quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Irreligião

Procurei a tradução desse livro e não consegui encontrar em lugar nenhum. Acho que não foi traduzido. Se foi, alguém me diga, por favor. Iniciei a tradução por causa da minha namorada, Bruna. Quero que ela leia o livro mas ela não entende inglês.

A tradução é uma iniciativa pessoal, muita coisa pode estar imprecisa e incorreta. Aguardo correção de algum leitor (se existir algum). Não traduzirei o prefácio nem outras partes anteriores, atendo-me à tradução dos capítulos. Esse é o texto do primeiro capítulo. Pretendo postar capítulo por capítulo, assim que for terminando. O livro é pequeno, cerca de cento e cinquenta páginas.

Na minha opinião, existem poucos livros bons sobre ateísmo escritos em português ou traduzidos para o português. Acho que não existe muito interesse em fazer isso, especialmente no Brasil, país de maioria católica e que a maioria da população, mesmo os mais pobres, tem uma postura bem conservadora e não procura questionar.

Essa tradução é também um exercício para o meu inglês, que não é tão bom, apenas médio. Por isso, deve haver muitos erros. Ela só saiu graças à ajuda do google translator em algumas (muitas) partes. Vamos ao texto:

    Parte I: Quatro Argumentos Clássicos

  1. O argumento da Causa Primeira (e intermediários desnecessários)
  2. O argumento do Design (e alguns cálculos criacionistas)
  3. Uma pseudociência pessoalmente elaborada
  4. O argumento do Princípio Antrópico (e um Apocalipse Probabilístico)
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Irreligião: Um matemático explica por que os argumentos para a existência de Deus simplesmente não batem


John Allen Paulos



Parte I: Quatro argumentos clássicos


O argumento da Causa Primeira (e intermediários desnecessários)

A primeira frase do livro do Genesis, “No princípio”, sugere o argumento da primeira causa para a existência de Deus. Ao esclarecer a estrutura do argumento, Bertrand Russel cita um relato aparentemente diferente do princípio – o mito hindu de que o mundo repousa sobre um elefante e o elefante repousa sobre uma tartaruga. Quando questionado sobre a tartaruga, o hindu responde: “Suponhamos que mudemos de assunto”.

Mas não vamos mudar de assunto. Como farei por todo o livro, começarei com um esquema aproximado do argumento em questão:


  1. Tudo tem uma causa ou, talvez, muitas causas.

  2. Nada é sua própria causa.

  3. Cadeias causais não podem continuar para sempre.

  4. Então, deve existir uma primeira causa.

  5. Essa primeira causa é Deus, que, portanto, existe.


Se assumirmos a compreensão cotidiana de “causa” e aceitarmos a argumentação acima, então é natural identificar Deus como a primeira causa. Deus foi o primeiro, de acordo com meu conhecimento religioso, que “colocou a bola para rolar”. Uma pequena variação deste é o chamado argumento cosmológico, que data dos tempos de Aristóteles e depende da teoria do Big Bang da origem do universo (ou algum precursor primitivo dele). Ele afirma que o que quer que tenha um começo tem que ter uma causa e desde que pensemos que o universo tenha um começo, ele deve ter uma causa.

Então, encontramos Deus? Ele é simplesmente o Primeiro Jogador de Boliche ou o Cara do Big Bang? Isso encerra o caso? Claro que não. O argumento não chega nem perto. Um dos furos é a Premissa 1, que poderia ser melhor formulada como: ou tudo tem uma causa ou existe algo que não tem nenhuma causa. O argumento da primeira causa cai nesse buraco, não importa o rumo que tomemos. Se tudo tem uma causa, então Deus também tem e não existe primeira causa. E se alguma coisa não tem uma causa, isso pode ser também o mundo físico ou Deus ou a tartaruga.

Para alguém que afirme que Deus é a primeira causa sem causa (e então fica como se tivesse explicado alguma coisa), devemos então perguntar: “por que o mundo físico não pode ser tomado como a primeira causa sem causa?” afinal de contas, o venerável princípio da navalha de Occam nos aconselha a “raspar fora” suposições desnecessárias e tomar o próprio mundo como a primeira causa sem causa tem a grande virtude de não introduzir a hipótese desnecessária de Deus.

Além do mais, todas as questões estimuladas ao aceitar a existência sem causa do mundo físico – Por que ele está aqui? Como ele apareceu e, claro, O que o causou? – pode facilmente e apropriadamente ser questionadas sobre Deus. Por que Deus está aqui? Como Ele apareceu? O que O causou? (Esse caminho reflexivo não é diferente do questionamento infantil “E sobre a sua mãe?”. Mas, em vez disso, “E sobre o seu pai?"). O poder de persuasão desse tipo de resposta ao argumento da primeira causa é indicado pela reação exasperada de Santo Agostinho a uma versão dela. Quando ele foi questionado sobre o que Deus estaria fazendo antes de criar o mundo, Agostinho supostamente respondeu: “Ele estava criando o inferno para pessoas que perguntam coisas como essa”.

Uma objeção ligada a esse argumento é que a primeira causa sem causa não precisa ter nenhuma qualidade tradicional de Deus. Ela é simplesmente a primeira e, como sabemos de outros campos, ser o primeiro não significa ser o melhor. Ninguém se gaba de ainda usar os primeiros computadores a entrar no mercado. Mesmo se a primeira causa existisse, poderia ser simplesmente um fato bruto – ou, pior ainda, um bruto de verdade.

Apesar disso, esforços de alguns em por Deus como a primeira causa, completamente fora do tempo e espaço, acabaria inteiramente com a noção de causa, que é definida em termos de tempo. Afinal de contas, A causa B somente se A vem antes de B e a primeira causa vem – surpresa – primeiro, antes das suas consequências. (Colocar Deus fora do espaço e tempo também impede qualquer tipo de intervenção divina posterior nos assuntos mundanos.) De fato, a linguagem comum se quebra quando contemplamos essas questões. A frase “início dos tempos”, por exemplo, não pode contar com os mesmos pressupostos que “início do filme”. Antes do filme, existe compra de pipoca, trailers ou qualquer coisa antes no universo.

A noção de causa tem outros problemas. Ela não está nem perto de ser clara e robusta como esteve antes de que o filósofo escocês do século XVIII David Hume e a mecânica quântica do século XX qualificarem-na. Hume argumentou que a frase “A causa B” significa nada mais do que “A foi seguido por B em toda instância que nós examinamos”. Toda vez que soltamos uma pedra, ela caiu. Já que é muito fácil imaginar soltar uma pedra não ser seguido pela sua queda, entretanto, a conexão lógica entre a causa e o efeito não pode ser uma conexão lógica necessária. A ligação entre um evento e suas causas é contingente e bastante fraca. Não podemos mover confiadamente de um evento para sua(s) causa(s) como imaginava-mos. Causas são descobertas pela experiência, e não por um raciocínio a priori, fazendo de “causa” uma noção muito menos clara do que o argumento da primeira causa pressupõe. Construir uma estrutura de ferro é muito mais fácil do que construir uma de macarrão e os argumentos são de alguma forma metaforicamente similares.

E se adicionarmos à noção de “causa” que Hume e outros pensadores modernos de causalidade e indução científica, a implicação da mecânica quântica de que “causa” é, na melhor das hipóteses, probabilística (sem mencionar todas as esquisitices quânticas que têm sido catalogadas pelos físicos), o argumento da primeira causa perde muito da sua limitada força. De fato, algumas versões da cosmologia quântica explicitamente retira uma primeira causa. Outras questões indicam que o Big Bang e o nascimento do universo são um fenômeno recorrente.

Curiosamente, o assim chamado argumento das leis naturais para a existência de Deus tem uma estrutura similar ao da primeira causa e é também vulnerável a um tipo de jiu-jitsu similar. Ele pode até mesmo ser explicado aos filhos conversando pouco no banco de trás. É aquele que pergunta “Por que isso, papai?” e responde à sua explicação com um outro “Por que?” e responde à sua explicação mais geral com outro “Por que?” e de novo, de novo e de novo. Eventualmente, você responde: “Porque é do jeito que é”. Se isso satisfizer a criança, o jogo acabou, mas se continuar por mais um round e você for do tipo religioso, você pode responder com um “porque Deus fez desse jeito”. Se isso satisfizer, o jogo acabou, mas e se a criança continuar insistindo?

Colocado de uma maneira mais formal, o argumento das leis naturais aponta para uma regularidade física que tem sido trabalhosamente descoberta por físicos e outros cientistas naturais e coloca Deus como um legislador, o autor dessas leis. Qualquer que seja a força desse argumento, entretanto, é grandemente diminuída ao questionar, como a amável criança curiosa deveria, por que Deus “fez dessa maneira”.Isto é, por que Ele criou essas leis naturais em particular? Se ele fez isso arbitrariamente, por nenhuma razão, então há algo que não segue as leis naturais. A cadeia de leis naturais está quebrada e, por isso, podemos pegar as próprias leis naturais como o “porquê” final arbitrário. Por outro lado, se Ele teve uma razão de fazer as leis naturais em particular que fez (por exemplo, para formar o melhor universo possível), então, Deus por si mesmo é sujeito a certas restrições preexistentes, padrões e leis. Nesse caso, também, não há muita razão de colocá-lo como um intermediário, em primeiro lugar.

Ainda assim, os filósofos desde Aristóteles, Aquino a Gottfried Leibniz têm insistido que algo deve explicar o universo – suas leis e até sua própria existência. Leibniz em sua famosa e sucinta pergunta, questionou: “Por que existe algo em vez de nada?” De fato, por que as coisas existem? Invocando seu princípio de razão suficiente, que diz que deve existir razão suficiente (ou causa) para cada fato, ele respondeu sua própria questão. A razão suficiente para o universo, ele afirmou, “é um ser necessário, trazendo consigo sua própria razão de existência”. O ser necessário é Deus, a primeira causa, que causou ou trouxe não apenas o mundo físico, mas ele mesmo, de alguma forma.

Isso sugere que uma reação razoável a essas refutações dos argumentos da primeira causa e da lei natural é questionar Premissa 2 que nada é sua própria causa. Alguns tem tentado criar algum sentido lógico com a primeira causa causando não só a(s) segunda(s) causa(s) mas também a si mesma ou, analogamente, a lei mais geral explicando não só a(s) lei(s) mais próximas, mas também a si mesma. O falecido filósofo Robert Nozick considera tal princípio auto-subsuntivo em seu livro “Explicações filosóficas”. Lá, ele introduz a ideia de um abstrato auto-subsuntivo princípio, P, do seguinte tipo: P diz que toda afirmação em forma de lei que tem a característica C é verdadeira. Princípio P é usado para explicar porque outras leis menos gerais são verdadeiras. Elas são verdadeiras porque elas têm a característica C. E o que poderia explicar que P é verdadeiro? Uma possível resposta poderia ser que P tem também a característica C. Em resumo, P, se verdadeiro, explicaria a si mesmo. Mesmo Nozick afirmava que isso “parece um pouco estranho – uma façanha do ilusionismo”. Entretanto, não há muitas alternativas. A cadeia de causas (leis) ou é finita ou infinita. Se é finita, a causa mais básica (ou lei mais geral) é ou um fato bruto ou arbitrário ou auto-subsuntivo. Nozick também escreveu sobre certos exercícios yogues místicos que ajudam a entender uma experiência análoga de auto-subsunção. Ele teorizou que “um dos atos que o yogue faz, durante sua experiência de ser identico à infinitude é a auto-felação, onde eles têm uma experiência intensa e extática de auto-geração, do universo e de si mesmos voltando-se sobre si mesmo em auto-criação”. Essa não é a imagem tradicional de um Criador e, isso dito, o leitor pode inserir sua própria piada aqui.

4 comentários:

  1. Murilo Ferraz,
    Gostaria de cumprimentá-lo pela iniciativa de fazer uma versão do livro de John Allen. Depois que ele foi entrevistado pela revista Veja (18-06-2008) imaginei que o livro seria traduzido, mas não tenho notícia de sua edição em português. Você fala também dos poucos livros sobre ateísmo no Brasil. Apesar disso, adquiri uns 15 ou 20 livros sobre o assunto, como por exemplo: Deus Não É Grande (Christopher Hitchens), Carta a Uma Nação Cristã (Sam Harris), Deus, Um Delírio (Richard Dawkins), Por Que Não Sou Cristão (Bertrand Russell), Quebrando o Encanto (Daniel C.Dennett), Tratado de Ateologia (Michel Onfray), Aprender a Viver (Luc Ferry), O Espírito do Ateísmo (André Comte-Sponville), além de outros. Fiz inclusive longas resenhas desses textos, mas não posso postá-los devido aos impedimentos dos direitos autorais, já que são longas transcrições dos livros.
    Abraços, Assis Utsch (www.divinamagia.com.br)

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  2. Acabei de achar esse blog e achei realmente interessante a iniciativa, afinal eu estou buscando a versão em português até hoje nas livrarias e nada, e na entrevista da Veja realmente dá a entender que o livro já havia sido lançado aqui, mas aparentemente não, sei lá.Quanto a esses títulos que o Murilo citou já li a maioria deles, mas quero acrescentar pelo menos dois livros que são escritos pelo brasileiro Paulo Jonas de Lima Piva, Ateísmo e Revolta, sobre o padre Jean Meslier que era ateu, e O Ateu Virtuoso sobre Diderot, muito Bons. Continue traduzindo enquanto a gente não encontra o livro.

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    1. Olá Muito obrigado pelos comentários. Comecei essa tradução há muito tempo e acabei abandonando porque não tive nenhum retorno. Pode ser que retome, terei que reler o livro. Até onde sei, não existe ainda tradução lançada no Brasil. Abraço.

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  3. Muito boa essa tradução que vc fez...

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